terça-feira, 20 de outubro de 2009

Compartilhando uma experiência de leitura e escrita...
Na unidade 22 -TP 06 há uma atividade de produção textual bastante interessante. A proposta é: "Escreva um texto sobre a sua história como educadora, como surgiu a motivação, como se sentiu e argumentou, justificando as suas escolhas." Esta produção é retomada em diferentes momentos do caderno de teoria e prática, servindo para uma reflexão sobre as etapas do processo de escrita, revisão e edição. Achei importante a realização desta atividade porque vivenciei a experiência de revisar detalhadamente minha produção textual de uma forma diferente. Como citaram os autores , "escritores maduros estão em um contínuo processo de reflexão sobre seus textos". Gostei da experiência e agora compartilho minha produção textual com vocês:
"SOBRINHA DE PEIXE, PEIXINHO É."
"Se o dito popular afirma que filho de peixe, peixinho é, posso também eu, diante de minhas vivências de leitura e escrita, argumentar que, sobrinha de peixe, com certeza, peixinho também será.
Três tias. Três professoras. É assim, no exemplo familiar, que começa minha história de amor com as palavras. Primeiramente, soltas, descompromissadas com a coerência e coesão. Mais adiante, sérias, com um grau de informatividade maior, capazes de descortinar mundos, ideias, concepções outrora desconhecidos.
Dos meus tempos de criança, recordo-me que ficava sentada ao redor da mesa da cozinha participando das experiências textuais de minhas tias professoras.
Tia Helena, naquela época, secretária do Conselho Paroquial da Igreja Católica local, tinha por costume e organização, fazer a ata das reuniões em rascunhos e passá-las a limpo em casa. Era então, nesta hora que eu entrava em cena, discretamente, com meus seis ou sete anos. Pegava uma folha e passava por cima do texto, copiando as letras que, naquela ocasião, eu apenas sabia decodificar. Neste singelo ato, já me sentia importante, embora não compreendesse bem o texto que ali se apresentava, fruto de um trabalho intenso de concentração de quem o produzira.
Mais tarde, quando eu já dominava a escrita e lia com fluência, outra tia foi palco de minhas viagens literárias: tia Jovelina. Esta graduou-se em Letras- Português/Francês, curso que eu sempre achara muito chique, requintado. Passei, então, a guardar todos as apostilas e papéis que descartava. Mesmo não tendo noção alguma da profundidade dos conteúdos estudados nesta área, ficava fascinada com a quantidade de livros que ela lia, de informações que eram assimiladas... Comecei ali a construir meus sonhos em torno da literatura, dos textos, do poder do discurso... e a perceber que ser leitor proficiente não era algo fácil, ser escritor , menos ainda. Educador, então, imagina!!!Lidar com diferentes leituras, oportunizar situações de produção textual, demonstrar prazer em saber, em conhecer...
De minha tia Lucinéa, ficou guardado o encantamento com as palavras, a criatividade em usá-las para fins inesperados. Sua facilidade em criar poemas, com ou sem rimas, estimulavam-me a ler e a enveredar-me na plurissignificação do universo poético, ora contendo versos lúdicos, pueris, ora profundos, realistas.
Desta forma, lentamente, o letramento foi acontecendo em minha vida. Fui compreendendo as astúcias das entrelinhas, das palavras não-ditas, a utilidade dos diferentes gêneros textuais... E aos dezessete anos, considerando-me ingenuamente uma leitora em potencial , tornei-me professora, sem ainda saber ao certo, se esta era mesmo a carreira que gostaria de assumir.
Moradora de cidade pequena, no entanto, logo que passei em um concurso público, vi nesta profissão, a oportunidade de conseguir minha independência financeira e nela depositei minha sede de ler os livros, de ler as pessoas, de ler o mundo.
Na sala de aula fui confirmando, aos poucos, que minha vocação era mesmo ensinar.
Quinze anos já se passaram e a cada dia percebo com mais clareza a necessidade de estar sempre aprendendo, refletindo sobre minha prática pedagógica, buscando técnicas, novos caminhos, diferentes leituras...
Enfim, as experiências de leitura e escrita na família foram realmente a primeira motivação para minha escolha profissional. Acredito que ler e escrever são metáforas da visão que temos do mundo. São extensões de nossos pensamentos, de nossas ideologias, da maneira como agimos e reagimos ao que a vida nos impõe como certo ou errado. Penso que muito se pode conhecer de uma pessoa pelo livro que ela carrega na bolsa, principalmente se esta for uma educadora. E minhas tias... ah! Estas carregavam bons livros..."

2 comentários:

  1. Jaline, fantástica sua história. Não a conhecia tão bem assim, comentada. Parabéns!!

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  2. Ficou muito bom.o seu texto-diário de borto do universo literário.Brincadeiras a parte,amiga como sempre você comove com suas palavras.Ainda mais quando envolve seus sentimentos de amor a família e a literatura.

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